terça-feira, maio 03, 2005

A mente e o bebop

bebop (da Encyclopædia Britannica): also called bop the first kind of modern jazz, which split jazz into two opposing camps in the last half of the 1940s. The word is an onomatopoeic rendering of a staccato two-tone phrase distinctive in this type of music. When it emerged, bebop was unacceptable not only to the general public but also to many musicians.

Be-bop. Be-bop. Be-bop. É o som que os sapatos, de sola de couro e madeira, fazem de encontro ao chão, quando ele caminha no imponente piso de granito do caminho para o prédio de escritórios. Os sapatos sociais, desconfortáveis, barulhentos, vêm quase sempre acompanhados da dupla dinâmica terno e gravata. É quase impossível dissociar a imagem de alguém usando terno e gravata da impressão que ela causa: ou de uma pessoa importante, ou de um burocrata, ou de um segurança de porta de boate. Perdida no meio desses estereótipos está uma variedade incrível de outros profissionais. Advogados. Bancários. Vendedores. Office-boys. Pastores evangélicos. Nem tudo que reluz é ouro, nem toda gravata é sinônimo de poder. Pelo contrário. Muitos gostariam de ter o poder de aboli-la do vestuário, de trocar o be-bop pelo som da borracha ou do pé descalço em contato com o piso, intransformável em onomatopéia. Be-bop, be-bop. Três minutos. É o tempo-padrão de uma música dos tempos do be-bop, os antigos discos de 78 rotações não comportavam durações maiores;. é o tempo que ele leva para passar pelo granito e chegar ao carpete, onde o som é abafado. Acabou o bebop, é hora da marcha. Nada de síncopes, nada de variações no tempo. Disciplinada e previsível, é a vida no escritório.

A cabeça dele trabalha em compasso de bebop. Dissonâncias, idéias aparentemente sem sentido, mudanças e paradas súbitas. A diferença é que o resultado final nem de longe se parece com arte. Talvez seja o que Freud chamou de mal-estar da civilização, um egoísmo profundo, que não condiz com a vida em sociedade, sempre gerando conflitos. Talvez seja um desajuste temporário, facilmente resolvível com um tempo de férias. Talvez seja esquizofrenia, o bebop é esquizofrênico por natureza, uma constante desconstrução, não há linearidade, é a fronteira entre a genialidade e a loucura, fronteira tênue, muito mal demarcada. Talvez seja só incompreensão momentânea, afinal de contas anos passaram-se até que a revolução do bebop fosse assimilada e compreendida, mas, que diabos, não há revolução alguma na mente dele, pelo contrário, a rotina engole qualquer tentativa de rebeldia, provavelmente uma revolução seria a saída, e não a causa do conflito.



O bebop, e, por extensão, todo o jazz, teve dois grandes revolucionários, que atendiam pelos nomes de Charles Parker Jr e John Birks “Dizzy” Gillespie. Parker era saxofonista, Gillespie, trompetista. Parker era um gênio intuitivo, de personalidade irascível, com histórico de prisões, internações em sanatórios e duas tentativas de suicídio. Virou um mestre do sax alto após ser humilhado em algumas apresentações, passou a praticar com o instrumento 12 horas por dia. Era viciado em heroína, e, como não podia deixar de ser, a droga o levou à morte prematura, aos 34 anos.



Dizzy viveu longos 75 anos. Foi, junto com Louis Armstrong e Duke Ellington, um dos grandes embaixadores do jazz. Cuidou de ensinar ao mundo o que o bebop queria dizer, trouxe os ritmos latinos para o jazz, viajou pelo mundo inteiro. Sua imagem simpática e bonachona, com as bochechas enormes soprando o trompete, faz parte do inconsciente coletivo, como sinônimo de jazz. Com Parker, fez gravações e apresentações incendiárias. Entraram para a história. Um servindo de contrapeso para o outro: o médico e o monstro, o yin e o yang. Assim deve funcionar a mente humana, pensa ele, o equilíbrio da luta entre o racional e o instintivo, a loucura e a sanidade, o consciente e o inconsciente. Be. Bop. Ele descansa após o dia de trabalho, sente que precisa de uma revolução. Alguém disse que as grandes revoluções são feitas pelos conservadores. Talvez. Se a resposta estiver escrita, está nas partituras, e não nos livros.

5 comentários:

Anônimo disse...

E quem disse que as dissonâncias, idéias aparentemente sem sentido, mudanças e paradas súbitas têm um resultado final nem de longe o se parece com arte?! Não demorou para que a revolução do bepop fosse assimilada e compreendida?! Quando tudo isso for compreendido - normalmente por poucos - será arte.

Pensando pessimistamente, deve existir uma distância insuperável entre acreditar ou sonhar e realizar. Talvez o grande conflito ou contrapeso seja esse. Os conservadores fazem a revolução, mas não acreditam nela.

Anônimo disse...

Eu prefiro jogar na sua cara dizendo que me deixou propositadamente de fora do show de estréia. Uma pena... Eu iria uivar de tanto vaiar.
Abraços!

Anônimo disse...

PJ, fui no Birdland Quinta feira. MTO bom .. recomendo !

PJ disse...

Balu, avisarei do próximo mega concerto. Leve as frutas podres.

Marginal, nos aguarde em agosto... que inveja!

Anônimo disse...

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