domingo, janeiro 15, 2006

Auf Wiedersehen, Hein Harrer

Hoje li na “Veja” que o lendário alpinista austríaco Heinrich Harrer faleceu no último dia 7, aos 93 anos. A aventura e a experiência de vida de Harrer, narradas com maestria no livro “Sete anos no Tibet” (sem dúvida um dos melhores relatos autobiográficos que já li) – e posteriormente passadas para a telona no filme de mesmo nome, filmado nos Andes argentinos e com (mulheres, suspirem) Brad Pitt no papel principal – parecem invenção de um ficcionista delirante, além de constituírem um painel bastante interessante de um período agitadíssimo da história do século passado.

Harrer estava participando de expedições de escalada no Himalaia em 1939, quando estourou a Segunda Guerra Mundial. Foi capturado no Paquistão por um batalhão do exército inglês e feito prisioneiro de guerra. Junto com um amigo, conseguiu empreender uma fuga fantástica do campo de prisioneiros e rumou para o Tibet, enfrentando no caminho (de 21 meses!) provações inacreditáveis. No Tibet foi inicialmente visto como um animal exótico: imagine dois austríacos barbudos chegando a pé no que era um reino totalmente isolado.

Porém, com humildade e inteligência, os dois amigos não demoraram muito para se integrarem à sociedade tibetana. Usando de seus conhecimentos técnicos (se não me engano os dois haviam se formado engenheiros), fizeram diversas obras para melhorar a infra-estrutura da capital Lhasa. Aprenderam a língua local e, para sua surpresa, Harrer foi convocado para ser tutor do atual Dalai Lama, na época uma criança curiosa de seus 7 anos.

O alpinista foi incumbido de apresentar ao jovem Tenzin Gyatso a cultura ocidental, e dessa maneira podemos dizer que ele foi um pioneiro da globalização – sua influência fez inclusive com que o jovem lama, míope, fosse o primeiro a usar óculos, até então um tabu para a religião budista. Creio que os ensinamentos de Harrer foram decisivos para que, posteriormente, o Dalai Lama se tornasse uma figura popular e reconhecida no mundo ocidental, sempre lutando pela libertação do Tibet e sendo contemplado com um Nobel da paz por essa causa.

A fantástica história de Harrer termina de maneira triste em 1950, com a brutal invasão do Tibet pelo exército da China maoísta. Harrer voltou para a Áustria e, pelo o que acabei de ler na Wikipedia, continuou sendo um explorador e esportista inquieto até o fim dos seus dias. Desnecessário dizer que recomendo com todas as letras a leitura do livro mencionado acima. A única contra-indicação é que a obra pode fazer a sua vida parecer terrivelmente desinteressante.