Observar a atitude de quem entra em um elevador é um exercício delicioso. Poucos são os que agem com indiferença e limitam-se a apertar o botão do andar desejado e esperar pacientemente até chegar lá. Há quem olhe para o alto, numa demonstração de arrogância; há quem olhe para o chão, aparentando humildade. Por algum motivo, alguns prédios acham uma boa idéia meter um espelhão na parede dos fundos, o que desperta a vaidade de alguns, que ajeitam o cabelo, apertam o nó da gravata ou fazem uma careta. Tem gente que, mesmo vendo que já foi dada a ordem para o elevador ir para o mesmo destino que o seu, faz questão de apertar novamente o botão, “para garantir”. Alguns, não contentes, passam todo o tempo repetindo esse ato freneticamente, talvez na esperança de que com isso o elevador ande mais rápido.

Narcisismo, complexos de inferioridade ou superioridade, neuroses e manifestações de desejos ocultos são alguns dos fenômenos psicológicos que podem ser observados de forma corriqueira em um elevador. Porém, nenhum deles me chama tanto a atenção quanto o medo que algumas pessoas alimentam quando entram em uma dessas máquinas. Não olhei nenhuma estatística, mas acredito que os elevadores estejam entre os meios de transporte mais seguros existentes – transportam milhares (talvez milhões) de pessoas a cada minuto, com rapidez e precisão. Mas isso não basta para tranquilizar quem carrega essa estranha fobia. Muitos preferem subir ou descer vários andares pela escada de emergência a encarar o monstro engolidor de gente, e, quando isso é inevitável, sentem-se mal, permanecem absolutamente calados, encostados em um canto, torcendo para que o destino chegue logo. Basta qualquer barulho menos usual ou um chacoalhão para que esses entrem em pânico, achando que um cataclisma está para acontecer. E respiram aliviados, como quem acabou de deixar um avião que fez um pouso de emergência com as turbinas em chamas, asssim que a porta se abre e o andar desejado finalmente surge à frente.
Nos escritórios, os elevadores são palcos de inúmeros bons-dias, conversas de negócios, comentários inúteis sobre o tempo ou o trânsito, comentários relevantes sobre a rodada de futebol do final de semana, flertes, olhadelas para decotes e piadas sem graça, quando soa o alarme de excesso peso e todos culpam o gordinho que acabou de entrar. Nos condomínios residenciais, a criançada faz a festa, sacaneando os moradores ao apertar os botões de todos os andares. O elevador sempre ocupa um lugar de destaque nas listas de lugares “exóticos” preferidos para se fazer sexo. Como toda grande invenção, extrapolou a sua função original. É uma grande vitrine para se observar uma das dimensões mais espetaculares do ser humano: o inconsciente. Mr Otis e Freud dariam bons amigos, creio eu.