sábado, junho 10, 2006

Joga Bola, Jogador

Começou. No próximo mês, não se falará mais de outra coisa. Por onde quer que se passe, os aparelhos de televisão estarão sintonizados em jogos ao vivo, vídeo-tapes, mesas de discussão, bastidores das concentrações. Nesse intervalo, o futebol fará quase todos os outros assuntos parecerem impertinentes e desinteressantes. Enfim, chegou a Copa do Mundo.

É impressionante notar como nós, brasileiros, pautamos as nossas vidas pelos mundiais de futebol. Eu não consigo me lembrar onde almocei anteontem, mas posso descrever perfeitamente as situações em que me encontrava em todos os jogos do Brasil nos últimos três mundiais. Criamos um novo calendário, onde os anos são apenas divisões secundárias, bem menos importantes. O que vale mesmo é o ano de Copa do Mundo, os demais se resumem, grosso modo, a esperar, esperar, esperar.

Em ano de Copa do Mundo, ser brasileiro vira, subitamente, motivo de orgulho. É a nossa vingança: podemos ter violência, corrupção e dívida pública indexada e de prazo muito curto, mas no futebol mandamos nós. Ingleses, italianos, alemães e (pfffffff) americanos são apenas meros coadjuvantes; quem manja mesmo de bola, como diria o Marcelo Rubens Paiva, é tupiniquim subdesenvolvido. E, neste momento, não há distinção de classes no Brasil. Seja universitário, executivo, gari ou presidiário, todos procurarão esquecer suas frustrações e encarnar em um dos 11 que estarão vestindo a camisa amarela. Para alguns, o futebol é a única válvula de escape das humilhações do dia a dia, e por isso não é tão difícil explicar alguns episódios de violência extrema que tem envergonhado tão belo esporte.

E o futebol não pode ser descrito de outra maneira se não com adjetivos exagerados. É um esporte (ou modalidade esportiva, para os puristas) absolutamente imprevisível: está para chegar o dia em que vai aparecer um matemático ou um computador capaz de modelar um espaço de 110 m x 80 m, onde 22 jogadores, com seus potenciais, limitações, criatividades, egos e idiossincrasias, tentam, com os pés, encaixar uma esfera de 69 cm de circunferência em um gol de sete metros de comprimento por 2,4 m de altura – uma enormidade paradoxal, dada a dificuldade vista na maior parte do tempo em conseguir tal feito. Tudo isso dá margem para (eu avisei que os adjetivos têm que ser exagerados) lances mágicos, aparentemente impossíveis, verdadeiras obras de arte que, como uma boa música ou um quadro expressivo, podem tanto ser frutos de treino e obstinação quanto explosões criativas e absolutamente originais, ou, o que é mais comum no futebol moderno, uma combinação harmoniosa desses dois fatores.

Muito pode ser escrito sobre futebol, e é difícil fazê-lo sem soar repetitivo. Minha contribuição fica por aqui. Em minutos começa Inglaterra x Paraguai. Torcerei pelos hermanos do outro lado da Ponte da Amizade e para que a Copa se desenrole numa final épica entre Brasil x Argentina. É delírio demais? O futebol e a tabela do mundial permitem isso. Vai, Brasil!!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Nada como Copa do Mundo e Eleições presidenciais no mesmo ano...

Anônimo disse...

Torço pelo Ronaldo e ao mesmo tempo torço por você; o grito é um só:

"VAI, EL GORDO!!!!!!!!"