
Harrer estava participando de expedições de escalada no Himalaia em 1939, quando estourou a Segunda Guerra Mundial. Foi capturado no Paquistão por um batalhão do exército inglês e feito prisioneiro de guerra. Junto com um amigo, conseguiu empreender uma fuga fantástica do campo de prisioneiros e rumou para o Tibet, enfrentando no caminho (de 21 meses!) provações inacreditáveis. No Tibet foi inicialmente visto como um animal exótico: imagine dois austríacos barbudos chegando a pé no que era um reino totalmente isolado.
Porém, com humildade e inteligência, os dois amigos não demoraram muito para se integrarem à sociedade tibetana. Usando de seus conhecimentos técnicos (se não me engano os dois haviam se formado engenheiros), fizeram diversas obras para melhorar a infra-estrutura da capital Lhasa. Aprenderam a língua local e, para sua surpresa, Harrer foi convocado para ser tutor do atual Dalai Lama, na época uma criança curiosa de seus 7 anos.
O alpinista foi incumbido de apresentar ao jovem Tenzin Gyatso a cultura ocidental, e dessa maneira podemos dizer que ele foi um pioneiro da globalização – sua influência fez inclusive com que o jovem lama, míope, fosse o primeiro a usar óculos, até então um tabu para a religião budista. Creio que os ensinamentos de Harrer foram decisivos para que, posteriormente, o Dalai Lama se tornasse uma figura popular e reconhecida no mundo ocidental, sempre lutando pela libertação do Tibet e sendo contemplado com um Nobel da paz por essa causa.
A fantástica história de Harrer termina de maneira triste em 1950, com a brutal invasão do Tibet pelo exército da China maoísta. Harrer voltou para a Áustria e, pelo o que acabei de ler na Wikipedia, continuou sendo um explorador e esportista inquieto até o fim dos seus dias. Desnecessário dizer que recomendo com todas as letras a leitura do livro mencionado acima. A única contra-indicação é que a obra pode fazer a sua vida parecer terrivelmente desinteressante.